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Como a Omens supera estigmas e instiga o cuidado com a saúde sexual masculina?

Em entrevista, Olivier Capoulade e Morgan Autret, fundadores da Omens comentam sobre o cenário da saúde sexual masculina no Brasil.

Paola Costa
5 minutos

No Brasil, o descuido masculino com a própria saúde não é novidade, de forma que várias pesquisas já indicaram que os homens tradicionalmente vão menos ao médico do que as mulheres. Na campanha do Novembro Azul de 2021, o Instituto Lado a Lado trouxe um levantamento de que a cada dez homens, seis só procuram um médico mediante sintomas insuportáveis. Quando se fala na saúde sexual masculina, o cenário não muda: segundo um levantamento da Sociedade Brasileira de Urologia em 2022, meninos adolescentes entre 12 e 18 anos vão ao urologista 18 vezes menos que meninas adolescentes vão ao ginecologista. Esse comportamento dificulta, por exemplo, a identificação de um câncer de próstata no início da doença. Vale ressaltar que, segundo a Estimativa 2023 do INCA (Incidência de Câncer no Brasil), o câncer de próstata é o quarto mais frequente no mundo e segundo mais frequente no Brasil.

Para além desses casos mais severos, a saúde sexual masculina também abrange questões como disfunções sexuais, as quais são vistas com um olhar de constrangimento pela população masculina, afastando os homens da busca por tratamentos. Em parte por conta desse comportamento masculino em relação à própria saúde sexual, esse mercado é muito inexplorado, ainda que exista uma demanda muito relevante.

Dessa forma, em busca de se estabelecer nesse segmento da saúde sexual masculina e atender essas necessidades, aliando saúde, informação, educação e discrição, a Omens é a primeira healthtech de saúde digital voltada para a saúde e o bem-estar masculinos. A startup surgiu como uma plataforma que conecta médicos e pacientes. Em entrevista exclusiva, Olivier Capoulade e Morgan Autret, fundadores da Omens, tratam sobre suas percepções do mercado.

Quando começaram a estudar esse mercado, Olivier relata que eles enxergavam várias soluções com foco em saúde masculina no âmbito internacional, mas que o tema ainda era visto como um tabu no Brasil. Ele conta que fizeram um estudo em conjunto com o Datafolha, levantando que problemas sexuais, como a disfunção erétil, assim como em outros mercados, são comuns no Brasil. “59% dos brasileiros entre 45 e 59 anos responderam que já tiveram problemas de ereção; e isso também existe no público mais jovem”, indica Olivier.

Outros fatores relevantes considerados pelos fundadores para a criação da Omens foram a liberação da teleconsulta, a dificuldade da jornada desse paciente no Brasil e a questão do acesso. Olivier complementa que “em geral, há pouca acessibilidade a urologistas no Brasil; existem em torno de 5 mil médicos especializados em Urologia, sendo que a maior concentração deles está em São Paulo”.

O desafio do convencimento e o estigma social

Dentre os desafios desse mercado da saúde  sexual masculina, Morgan avalia que um dos pontos centrais é o convencimento da população masculina que está acostumada a não se tratar e que enxerga a saúde sexual com muito estigma. “Muitas vezes os médicos generalistas não estão treinados para responder de maneira efetiva a queixas ligadas a problemas sexuais. Ainda, em cidades menores, muitas vezes este médico atende a família toda, então existe uma certa vergonha do homem que não consegue ver uma disfunção sexual com naturalidade”, ele complementa.

Olivier ressalta que há também o convencimento de que muitos desses problemas podem ser tratados de maneira rápida e que a teleconsulta é eficiente: “nós precisamos convencer as pessoas de que por meio da teleconsulta conseguimos resolver mais ou menos 90% das patologias que tratamos, como problemas de libido, ejaculação precoce, disfunção erétil; temos soluções eficientes e com um valor em conta”. Por fim, além da eficiência, ambos destacam a importância da teleconsulta na entrega do serviço pelo Brasil em localidades que carecem de médicos especialistas.

Os modelos internacionais e a jornada de saúde integrada

Os fundadores explicam que, em suma, existem dois modelos, sendo um mais focado em clínica e o outro em farmácia. A Omens se propõe a unir esses modelos com uma visão de saúde mais integrada, de forma que toda a jornada ocorre em uma única plataforma. Além disso, Morgan explica que para proporcionar saúde, o uso de medicamentos não é sempre necessário, de maneira que o médico pode orientar outros tratamentos.

“O paciente pode querer adquirir um medicamento manipulado na plataforma da Omens ou na farmácia, mas nós também desenvolvemos, por exemplo, um curso sobre como tratar a ejaculação precoce de forma natural”, relata Morgan.

Ressaltam também o acesso a psicólogos na plataforma dentro dessa jornada de cuidado. O oferecimento desse tipo de atendimento está relacionado com as pesquisas que a Omens realizou que indicaram a incidência de problemas sexuais em pessoas mais jovens principalmente por conta da ansiedade, uma condição crescente no mundo. “Em 50% dos casos, a questão é mental e não física”, acrescenta Olivier.

Comunicação e educação como pontos centrais da saúde sexual

Diante de um segmento cercado de tabus, a Omens entende que o comprometimento com uma comunicação eficiente e esclarecedora é necessário. Para eles, antes das pessoas receberem um tratamento, elas precisam saber o que são esses problemas e que eles são mais comuns do que se imagina. “Comunicação é educação. Por isso, temos um blog com uma movimentação de cerca de um milhão de usuários por mês, e nosso intuito é que nós nos tornemos uma mídia sobre saúde masculina”, destaca Olivier.

Os fundadores também levantam um ponto interessante: 40% dos acessos são feitos por mulheres, as quais querem se informar para tentar ajudar seus parceiros. Eles entendem que esse comportamento está relacionado à tendência do homem de não se tratar e não falar sobre esse tipo de problema. Nesse sentido, as mulheres também se tornaram um público importante dentro desse diálogo.

“Por último, acho importante ressaltar que para além de trazer informações corretas e com embasamento científico, nós também tentamos adotar uma linguagem mais leve, que não culpabiliza o homem. Entendemos que culpar o homem pelo seu descuido com a saúde e usar termos como ‘masculinidade tóxica’ dialoga com um público mais conscientizado, mas isso não ressoa no Brasil. Fazer uma campanha de culpa e ‘dar uma bronca’ nele pode gerar afastamento e não necessariamente vai trazer uma mudança de comportamento, que é o nosso objetivo”, conclui Morgan.