Durante a pandemia de Covid-19, o número de consultas odontológicas caiu significativamente, com uma redução de 80% na rede pública e 30% na privada – foi o que indicou um estudo realizado pela Universidade Federal de Pelotas. No entanto, nos últimos anos, levantou-se que a área de odontologia tem passado por um período de valorização, sendo um dos alvos de atenção e interesse dentro da saúde no Brasil e no mundo.
Quanto a alguns números de mercado, a Fortune Business Insights indica que, globalmente, o tamanho do mercado de odontologia foi avaliado em US$ 36,08 bilhões em 2022. Além disso, estima-se que ele deve crescer de US$ 38,21 bilhões em 2023 para US$ 65,23 bilhões em 2030.
Já em relação ao Brasil, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) estimou que os serviços odontológicos, levantando em conta todos os tipos de clínicas, têm um faturamento de cerca de R$ 39 bilhões por ano, ressaltando que ainda existe um espaço muito grande de crescimento. Destacaremos aqui dois pontos que vêm chamando atenção na odontologia nos últimos anos, sendo eles o avanço da tecnologia no setor, o ensino odontológico, pesquisas recentes e o mercado de estética.
O avanço tecnológico e a pressão por um ensino atualizado
Assim como a medicina passa por um processo de digitalização em diversas frentes, a odontologia também tem acompanhado essas movimentações, levando a uma melhoria dos diagnósticos e dos tratamentos, tanto do ponto de vista de eficácia, quanto de métodos menos invasivos. Dentre essas tecnologias, há um destaque para os softwares que simulam os resultados de procedimentos estéticos e auxiliam no planejamento de cirurgias, além dos aparelhos dentais e impressoras 3D de moldes e dentaduras.
Ainda, hoje uma parte importante da evolução se dá em torno da interação com arquivos 4D e do chamado “paciente digital”, conforme publicado na revista científica “CES Odontología” em 2021. Os pesquisadores indicam que os arquivos 4D permitem a captura dos movimentos específicos do paciente, proporcionando maior acurácia do diagnóstico e previsibilidade sobre os resultados dos planos de tratamento. Além disso, eles apontam que esse método traz o paciente para o centro do cuidado, podendo mostrar a ele todas as simulações da evolução do quadro de forma gráfica e prática.
Como resultado desses avanços, semelhante ao ensino médico, também existe uma pressão sobre a atualização das grades de odontologia. Já existem cursos de especialização e mestrado que buscam responder a essa demanda, mas algumas universidades estão se movimentando para atualizar a grade curricular com a cadeira de Odontologia Digital.
Além disso, esse ano, por exemplo, a Faculdade de Odontologia da USP inaugurou o Centro de Recursos de Aprendizagem, Investigação e Inovação, um espaço voltado para desenvolver habilidades específicas na graduação e pós-graduação em odontologia. Esse espaço contém simuladores odontológicos, dispositivos eletrônicos e um espaço para modelagem e impressão 3D, entre outros elementos. Vale ressaltar que o Brasil é referência no ensino e pesquisa em odontologia. Em março deste ano o QS World University Ranking by Subject avaliou o curso de odontologia da USP como o 14º melhor do mundo.
O potencial dos canabinoides da odontologia
Do ponto de vista da pesquisa, para além das inovações tecnológicas, vem chamando atenção os estudos sobre o potencial da cannabis medicinal na odontologia, uma vez que a cannabis influi no sistema endocanabinoide, essencial para manutenção da saúde no corpo como um todo, o que inclui a cavidade oral. A Cannabis & Saúde indica que o uso medicinal da cannabis é visto como promissor no tratamento de condições inflamatórias.
Ainda, em linha com esses estudos recentes, o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) criou um Grupo de Trabalho para ampliar os estudos sobre o uso de canabinóides. O Grupo busca colaborar com a divulgação de informações sobre a cannabis na odontologia, com o direcionamento sobre esse uso, além de contribuir com a regulamentação e o ensino. Até agora, destaca-se os estudos envolvendo o uso de canabinóides relacionado à dores crônicas, bruxismo, anti-inflamatórios e cicatrizantes.
Hoje, a prescrição de cannabis medicinal é autorizada tanto para médicos quanto para cirurgiões-dentistas. Entretanto, a necessidade sobre esse uso deve ser comprovada para que seja feita a importação ou a compra no varejo farmacêutico pelo paciente, conforme regulamentado pela ANS.
Mercado da estética odontológica cresce no Brasil e no mundo
O mercado de estética é um dos mais promissores hoje, sendo que o Brasil está entre os países em que esse segmento mais cresce, junto com os Estados Unidos e a China. Em meio a esse crescimento, a estética odontológica é uma das tendências. A Sociedade Brasileira de Odontologia Estética (SBOE) indica que em 2021 o mercado de estética brasileiro apresentou um crescimento superior a 560%.
Dentre os procedimentos estéticos, o Dental Tribune destaca a procura por lentes de contato, clareamento dental e facetas cerâmicas. Contudo, o escopo da atuação do dentista vai além da estética dentária e ele atua no rosto como um todo, com a aplicação de botox e preenchimento labial, harmonização e demais intervenções na face, procedimentos regulamentados pelo Conselho Federal de Odontologia. Ressalta-se que a estética é um aspecto muito cultural que ressoa muito nos Estados Unidos e na América Latina, o que impulsiona o crescimento desse mercado.
Globalmente, um relatório do Research and Markets enfatiza que a América do Norte liderou esse mercado de estética odontológica em 2021 e projeta um crescimento significativo na região da Ásia-Pacífico pela enorme base populacional e renda disponível. O relatório também ressalta que esse é um setor muito competitivo pela presença de grandes players. Por fim, no âmbito global, indica que esse mercado faturou US$ 33,6 bilhões em 2022 e estima um faturamento de US$ 89 bilhões até 2030.