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Silver economy: a janela de oportunidades do envelhecimento 

O envelhecimento populacional é uma realidade e vem trazendo implicações no sistema de saúde e no mercado. Em resposta, há o crescimento da silver economy, que movimentou US$ 300 bilhões no mundo em 2019.

Paola Costa
5 minutos

O envelhecimento populacional é um fenômeno global, mas varia em cada país. No Brasil, por exemplo, ele já é uma realidade. Em 2022, o Ministério da Saúde divulgou um boletim sobre a saúde do idoso que indicou uma estimativa de que em 2030 o número de idosos vai superar o de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos em cerca de 2,28 milhões.  

Essa transição demográfica desencadeia transformações importantes no mercado que deve se adequar para atender as necessidades dessa parcela populacional. Segundo dados de 2019 do Sebrae, os idosos representam 20% do poder de consumo, porcentagem que não pode ser ignorada. Como resultado, um mercado específico vem se desenvolvendo: a silver economy, ou economia prateada. Trata-se da totalidade de atividades econômicas associadas às necessidades desse grupo populacional.  

Muitos setores estão envolvidos na silver economy e um dos segmentos mais relevantes e recorrentes dentro dessa transformação é a saúde. Atualmente, há uma crescente oferta de produtos e serviços que visam não só a longevidade, mas também as soluções que buscam mais qualidade de vida. Ainda, o envelhecimento da população impacta diretamente na organização das redes de atenção à saúde, no SUS e nos planos privados.

Soma-se isso ao fato de que essa parcela populacional é, em grande parte, crônica, por conta da ausência de prevenção no cuidado com a saúde. A Fiocruz indicou que 25,1% dos idosos são diabéticos, 18,7% são obesos e 57,1% são hipertensos. Ainda, a pesquisa ressalta que as doenças crônicas são responsáveis por mais de 70% das mortes.   

O impacto sobre o sistema de saúde público e privado  

Um estudo divulgado na Fiocruz em 2018 levantou que 75,3% dos idosos brasileiros dependem exclusivamente do SUS. Além disso, segundo os dados divulgados no Tribunal de Contas da União (TCU), a projeção sobre o resultado das mudanças demográficas e da tendência de envelhecimento da população é de que haja um aumento nas despesas em 2030 de aproximadamente 11%.

Já em relação a saúde suplementar, a ANS registrou esse ano que o Brasil tem mais de 50 milhões de beneficiários em planos de saúde. Esse número corresponde a 25% da população. Dentro dessa parcela, o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar divulgou uma pesquisa destacando que o número de idosos em planos saltou de 3,4 milhões em 2002 para 7 milhões em março de 2022.  

Apesar desse aumento, segundo a Fiocruz, os idosos estão entre os que se sentem mais afetados pelos problemas dos planos privados. Muitos se queixam, por exemplo, da dificuldade em adquirir um plano de saúde e dos altos custos, o que ocorre em virtude da faixa etária mais avançada, das doenças crônicas e da consequente recorrência sobre os serviços do plano.      

As startups de saúde e o envelhecimento da população no Brasil  

Diante desse cenário, no Brasil, as startups conhecidas como agetechs vêm se envolvendo com a silver economy. Nesse sentido, elas oferecem soluções voltadas para resolução desses problemas estruturais na saúde brasileira, para a questão da longevidade e qualidade de vida dessa população.  

A Pipe.Social, plataforma-vitrine que conecta negócios de impacto e investidores, fez uma pesquisa em 2020 que mapeou 343 empresas com foco em oferecer produtos e serviços para idosos nos mais diversos setores. Entre eles foram levantados, por exemplo, aplicativos de saúde voltados para gestão do cuidado e suporte para o planejamento do fim da vida.   

Ainda, um relatório do Data8 trouxe uma estimativa da KPMG em conjunto com a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital de que, em 2019, em torno de R$ 10 bilhões foram investidos na silver economy no Brasil. Isso indica um grande potencial de mercado, mas ele ainda se mostra incipiente em comparação com o cenário internacional, não havendo, por exemplo, nenhum unicórnio.  

As soluções voltadas para saúde na silver economy no contexto internacional

O relatório do Data8, mencionado anteriormente, trouxe a estimativa de uma movimentação de US$ 15 trilhões no mundo advinda da silver economy em 2020. Nesse sentido, é evidente que no mercado de venture capital o tema do envelhecimento vem ganhando cada vez mais espaço. O relatório do Data8 indicou que, em 2019, houve a realização de cerca de 33 mil deals no mundo dentro desse mercado, gerando uma movimentação de cerca de US$ 300 bilhões.  

Ao contrário do Brasil, esse segmento, em países como os Estados Unidos, possui um grau de maturidade mais avançado. Um dado que evidencia essa realidade é a existência de algumas agetechs unicórnios, como a Honor, a Papa e a AlayaCare. 

A Honor, agetech norte-americana, é uma rede voltada para idosos e uma plataforma que fornece cuidado personalizado, visando uma melhoria da experiência domiciliar. Segundo a GrowJo, a receita anual estimada da Honor é de US$ 219,4 milhões por ano. A Papa, também norte-americana, atua conectando idosos e famílias a acompanhantes, promovendo uma assistência diária. De acordo com a GrowJo, a receita anual estimada é de US$ 179, 2 milhões. Por último, a AlayaCare, canadense, é uma plataforma de software de atendimento domiciliar e teve a receita anual estimada em US$ 100,3 milhões por ano, também segundo os dados da GrowJo.  

Além disso, há um movimento forte de big techs que passaram a investir nesse mercado, com foco em longevidade, como a Apple, a Amazon, o Google, o Facebook e a Microsoft. O cofundador da Google, por exemplo, criou a Calico em 2013, com a missão de compreender a biologia do envelhecimento e trabalhar para o desenvolvimento de intervenções que proporcionem maior longevidade.