A pandemia de Covid-19 influenciou nos hábitos e na vida da população global como um todo em diversas esferas, entre elas na percepção que se tem sobre a saúde preventiva. Esse período evidenciou a relevância do cuidado com a saúde pessoal e coletiva, moldando a maneira como as pessoas enxergam a prevenção de doenças e a promoção do bem-estar.
Ainda que muitos hábitos de saúde se mantenham negligentes, é notável uma maior conscientização da população sobre a importância das escolhas diárias para uma vida mais longeva e saudável, o que abarca a influência da nutrição e dos exercícios físicos para o fortalecimento da imunidade, entre outros aspectos. A pesquisa “O Valor da Saúde – o que mudou com a pandemia e os desejos dos brasileiros para o futuro”, realizada pela Abbott, ilustra bem essa mudança no âmbito do Brasil.
A pesquisa em questão ouviu mais de 2 mil homens e mulheres, com idade superior a 25 anos, das classes A, B e C, de todas as regiões do Brasil, incluindo pessoas portadoras de condições crônicas. A maioria dos entrevistados entende que a saúde está relacionada a não ficar doente e com o estilo de vida levado pelo indivíduo.
Entre os principais insights, os entrevistados pontuaram alguns aspectos como fundamentais para manter uma vida saudável, sendo eles: alimentar-se bem (52%), dormir bem (40%), ter uma imunidade alta (37%) e não depender de remédios (37%). Outro ponto importante levantado pela pesquisa foi que a população se disse mais propensa a manter os hábitos saudáveis adquiridos durante a pandemia. Entre eles, está a diminuição do consumo de industrializados (58%), de hambúrgueres (60%) e refrigerantes (61%).
O mercado global das vitaminas
Em meio a essas mudanças e busca por uma vida mais saudável como fonte de prevenção contra doenças, há um crescimento mundial nos mercados de alimentos saudáveis, vitaminas e suplementos, por exemplo. O Future Market Insights (FMI) publicou um relatório que traz alguns insights sobre o crescimento do mercado de suplementos vitamínicos.
O relatório ressalta que a consciência sobre a própria saúde vem crescendo globalmente, estimulando essa busca por vitaminas e suplementos. Outros pontos que contribuem para essa demanda é o envelhecimento da população, um olhar mais voltado para os cuidados de saúde preventivos, influência das redes sociais e o crescimento do e-commerce.
Nesse sentido, o relatório do Future Market Insights estima uma avaliação de US$ 57,63 bilhões em 2023 e US$ 133,94 bilhões até o ano de 2033 para o mercado global de suplementos vitamínicos. Ainda, eles indicam um CAGR (Compound Annual Growth Rate, na sigla em inglês – Taxa de Crescimento Anual Composta) de 8,8% durante o período de previsão colocado.
O mercado brasileiro, importância das vitaminas e a Vitamine-se
Essa tendência da busca por uma vida mais saudável, fortemente influenciada pela pandemia, encontrou eco também no Brasil – é o que nos relata Augusto Cruz, fundador da Vitamine-se, empresa investida da Green Rock com foco em saúde, beleza e bem-estar. Ele relata que a história da startup se iniciou em 2021, sob a percepção da oportunidade do mercado de prevenção no Brasil.
“O mercado de vitaminas, no Brasil, só atinge 6% da população. Essa porcentagem representa cerca de 20 milhões de brasileiros. Se pensarmos no potencial, é um mercado de 80 milhões de pessoas. Ou seja, fica claro que é um mercado a ser conquistado, três vezes maior que o atual”, explica Augusto.
A nutricionista Nicolle Zanini, em entrevista à Green Rock, explica que “as vitaminas são compostos orgânicos essenciais para o funcionamento adequado do organismo”. Em síntese, elas atuam no sistema imunológico, no metabolismo, na prevenção de doenças e na saúde como um todo.
Quanto aos seus benefícios, a nutricionista relata que elas “dão suporte ao funcionamento adequado do sistema imunológico, a saúde dos ossos, pele e olhos, além de contribuir para o metabolismo energético”. Além disso, Nicolle indica que elas também têm um papel fundamental na prevenção de deficiências nutricionais, ajudam na produção de enzimas necessárias para processos essenciais do corpo e também podem ter efeitos antioxidantes.
A partir dessa percepção da importância das vitaminas e do potencial de mercado, o fundador da Vitamine-se conta que eles iniciaram algumas pesquisas para entender o motivo por trás dessa lacuna e o porquê os brasileiros não estão acostumados a consumir vitaminas. Segundo ele, a maior parte da população não tem um entendimento claro sobre o consumo de vitaminas e entende que elas são remédios. Uma segunda parcela acredita que elas não fazem efeito e ainda existe uma terceira camada que tem a falsa crença de que vitaminas engordam. “Em resumo há um ruído educativo muito grande”, aponta.
Nicolle desmistifica essas falsas percepções, explica a diferença entre as vitaminas e os remédios e reitera que eles não podem ser confundidos ou vistos como substitutos um do outro. A nutricionista esclarece que enquanto as vitaminas são nutrientes necessários para a execução das funções biológicas citadas, os remédios têm como alvo alguma doença em específico. “Enquanto as vitaminas desempenham papéis importantes na promoção da saúde, não devem ser consideradas como substitutas de medicamentos prescritos para condições médicas”, indica.
Quanto a possíveis contraindicações e efeitos adversos, a nutricionista alerta que eles podem ser decorrentes do uso excessivo de vitaminas. “Algumas vitaminas, quando ingeridas em quantidades muito altas, podem causar toxicidade. Além disso, certas condições de saúde, interações com medicamentos e características individuais podem influenciar nas recomendações de ingestão de vitaminas”, acrescenta.
Nesse sentido, Nicolle afirma que, principalmente no caso da ingestão de doses elevadas, é importante consultar um profissional da saúde ou um nutricionista para garantir que essa quantidade vai atender às necessidades específicas do indivíduo. “Uma abordagem equilibrada e baseada em orientação profissional é fundamental para otimizar os benefícios das vitaminas e evitar riscos à saúde”, finaliza.
Diante do problema da desinformação, o fundador da Vitamine-se aponta que existem dois pilares fundamentais para exploração desse mercado: a educação e a comunicação. “Quando eu juntei o tamanho do mercado, seu potencial e entendi o impacto da Covid-9 com relação a prevenção e as mudanças na percepção da população sobre sua própria saúde, sendo que o grande ativo seria a comunicação, decidi entrar nesse negócio”.
A criação da empresa e a personalização de vitaminas
A partir disso, a Vitamine-se surge a princípio como uma empresa de e-commerce que faz a personalização de vitaminas de acordo com a demanda de cada indivíduo através da inteligência de dados. A empresa busca proporcionar um estilo de vida mais saudável, acompanhando o usuário e as diferentes necessidades que ele pode ter em cada fase da sua vida.
“Para fazer essa personalização, pegamos um Centrum, que é um polivitamínico, viramos ele na horizontal e isolamos as vitaminas. Com esse isolamento, conseguimos elevar ao máximo a concentração de cada vitamina. Depois, conseguimos juntar essas 19 vitaminas que lançamos isoladas de forma industrial em um pote colorido como se fosse um Lego. Dessa forma, se seu foco é energia, por exemplo, nós te damos uma composição de duas a quatro vitaminas para atingir energia”, explica.
Desde a criação da empresa, Augusto relata que eles conseguiram constituir uma boa base de dados a partir de um questionário no site da Vitamine-se. “Temos um quizz com 21 perguntas no site que foi feito por meio de pesquisas com cerca de 50 nutricionistas. Esse quizz acaba sendo a maior fonte de dados que temos, principalmente no sentido de escutar as pessoas e o que elas estão precisando”.
Ele explica que são mais de 100 mil respostas, o que proporcionou à empresa uma inteligência de dados muito avançada em comparação com outros players do mercado. Com as informações levantadas pelo questionário, a empresa colocou seu foco no acompanhamento do dia a dia dos usuários. Ou seja, ele explica que, “no caso de uma mulher, se ela tem TPM, a Vitamine-se traz uma solução para isso; se de tarde, por exemplo, ela gosta de comer um snack, temos uma opção saudável; se ela treina de manhã e precisa de energia, temos também vitaminas focadas nisso”. A partir disso, o fundador conta que a empresa foi acertando seu portfólio de produtos.
A resposta para o desafio da desinformação: a comunicação
Augusto entende a comunicação como o grande ativo da Vitamine-se e a resposta para a desinformação. No entanto, ele acredita que a questão educacional é um trabalho de longo prazo que é perpassado por vários desafios. “Esse é um negócio que vai durar muito tempo ainda, mas a indústria farmacêutica no Brasil é muito fechada e tem a questão do órgão regulatório, pois sabemos que a Anvisa é bem rigorosa. Nesse sentido, você falar, em português claro, sobre os benefícios da vitamina, ainda é um desafio”, explica.
Diante disso, ele conta que o primeiro passo se deu logo no nome da marca, que é muito claro em relação a categoria que atua e também se coloca como um convite para que o indivíduo entre nesse universo. “Da mesma forma que o nome ‘Vitamine-se’ é autoexplicativo, ele também é um ‘call-to-action’”.
Outro ponto central diz respeito às cores, de forma que cada cor possui um significado e traz um benefício. Por exemplo, no caso de vitaminas voltadas para boa forma, pele, estética e cabelo, há um foco no rosa e no lilás, o que é comprovadamente atrativo para esse benefício. Ele ressalta que isso é central para afastar o estigma de remédio e aproximar as vitaminas da ideia de um estilo de vida saudável.
Os desafios em torno dos hábitos saudáveis
Apesar das estratégias utilizadas, Augusto destaca que o processo educativo das vitaminas e da prevenção é mais desafiador do que em outros segmentos. Isso porque, segundo ele, reflete em uma mudança na rotina de saúde da pessoa, no seu comportamento habitual. “As empresas de alimentos também passam por isso. Para quem quer vender alimentos saudáveis, é preciso convencer a pessoa a deixar de comer um salgadinho para consumir um snack mais saudável. Então nós lutamos em um processo sem fim de explicar o benefício da vitamina”.
Depois de convencer a pessoa a iniciar um hábito saudável, ele salienta que existe um segundo desafio: o da constância. “Por mais que eu te convença ou você se convença sozinho a entrar nesse mercado, você precisa ter disciplina para se lembrar de tomar a vitamina todos os dias. Isso é tão significativo quanto a rejeição de quem acha que é remédio. São dois momentos muito importantes. Mas quando a pessoa sente o benefício, ela nunca mais abre mão disso”.
O e-commerce e o canal físico
Conforme mencionado anteriormente, a Vitamine-se iniciou apenas no setor de e-commerce, mas Augusto compartilha que a empresa encontrou espaço no espaço físico das farmácias enquanto uma marca jovem, atraente e premium. “Saímos de 285 farmácias em dezembro do ano passado para mais de 4 mil hoje. Basicamente, hoje, a empresa atua bem vendendo vitaminas nas farmácias e no canal alimentar, onde está 75% da compra desta categoria”.
Além disso, ele ressalta que essa incorporação do canal físico reflete uma demanda que surge com as mudanças sociais. “Quem popularizou as vitaminas no mundo foi o Pelé, como garoto propaganda. Mas o Pelé não só parou de jogar futebol há muitos anos, como também infelizmente já faleceu, mas essas marcas que eram representadas pelo Pelé ainda estão nas farmácias praticamente com a mesma ‘roupagem’”.
Dessa forma, ele destaca que há uma necessidade de renovação latente que acompanhe e dialogue com as gerações atuais, dado que muitas marcas ainda estão oferecendo benefícios em uma linguagem anacrônica. Augusto conta que a Vitamine-se responde a essa demanda principalmente por meio da plataforma de pesquisa e do quizz no site. “Oferecemos para as farmácias o que realmente o brasileiro está buscando. O grau de sucesso, de compra e permanência no canal físico está indo muito bem”, acrescenta.
Próximos passos e parcerias
Com relação aos próximos passos da empresa, o fundador conta que o maior foco está no aumento dos pontos de venda. Hoje no Brasil existem em torno de 90 mil farmácias e os produtos da Vitamine-se estão em cerca de 4 mil. No entanto, ele faz uma ressalva: desse total de 90 mil, entre 12 mil e 13 mil farmácias representam 50% do faturamento. Depois disso, ele estima que em 2025 e 2026, a empresa deve direcionar seu olhar para o canal verde alimentar e as farmácias independentes.
“Nesse momento, o foco total está nas 23 marcas da Associação Brasileira de Farmácias. Também temos um olhar para o desenvolvimento de mais produtos, cada vez mais atrativos, em torno dos benefícios que a população nos pede, e que também acompanhe o indivíduo em sua jornada diária”, adiciona.
A respeito das parcerias que a empresa tem feito, Augusto destaca a Oak Berry, a Ambev e a JBS. “No caso da Oak Berry, percebemos uma afinidade grande de conceito e propósito de marca. Em relação à Ambev, a empresa viu uma necessidade mundial em relação às bebidas funcionais. Ela fez uma análise mercadológica e lançamos o ‘Relax’, que é a primeira bebida pronta antiestresse do mundo. Mais recentemente, fizemos a parceria com a JBS. Eles fizeram uma fábrica de colágeno e nos escolheram para lançar esse produto no mercado brasileiro para o consumidor. Quando me perguntam: ‘mas por que a Vitamine-se?’, eu entendo que é porque a marca vem crescendo, é jovem, atraente e óbvia”, finaliza.