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Tendências: as temáticas no radar do mercado de saúde em 2025

Especialistas apontam tendências para o mercado de saúde em 2025, destacando avanços tecnológicos, novas terapias e desafios regulatórios, além de perspectivas estratégicas para os próximos cinco anos

Letícia Maia

O setor de saúde possui muitas frentes, cada uma com diversas questões complexas e de longa data para serem resolvidas. Mesmo assim, a chegada de um novo ano implica um período de novas expectativas – ou pelo menos, o reforço das antigas.

Pensando nisso, convidamos alguns membros da nossa comunidade de especialistas para falar sobre quais devem ser as tendências este ano. Além disso, trazemos uma breve recapitulação de 2024 e as sugestões de Gonzalo Grillo sobre novas prioridades para o setor nos próximos cinco anos.

Perspectivas da comunidade Green Rock para 2025

Marcio de Paula

Executivo de Life Sciences com mais de 20 anos de experiência, atuou no setor farmacêutico, biotecnologia, saúde do consumidor e dispositivos médicos. Fundou a Instituto Brasileiro de Inovação em Saúde, é integrante da Embrapii e do Global Centre for Risk and Innovation, em Toronto.

Para Marcio de Paula, a saúde digital e o avanço da inteligência artificial (IA) são as principais questões para o mercado de saúde em 2025.

“A transformação digital e o uso de IA continuarão moldando a forma como prestamos e acessamos os serviços de saúde. Soluções como diagnósticos assistidos por IA, monitoramento remoto e plataformas digitais de saúde têm potencial para aumentar a eficiência e melhorar os resultados clínicos. O desafio será garantir que essas inovações sejam acessíveis e reguladas de forma ética, evitando a exclusão de populações vulneráveis”, reitera o executivo.

Logo em seguida, ele aponta também as questões de saúde mental, cuja discussão deve continuar a todo vapor em 2025. Com mais atenção das organizações públicas e privadas, o tema abrirá espaço para inovações em terapias híbridas, digitais e presenciais, que poderão alcançar um público mais amplo e ajudar a superar o estigma associado às doenças mentais. A maior barreira continua sendo expandir o acesso a serviços de qualidade”, completa De Paula.

Entre outras apostas, o executivo de Life Sciences também vê um foco maior em inovações e programas educativos para combater a resistência antimicrobiana (AMR), além dos investimentos em vacinas de tecnologia mRNA e outras terapias avançadas.

Todas essas apostas vão ao encontro das demandas de um mundo em envelhecimento demográfico. Logo, em paralelo, espera-se também pelo aumento da demanda por tecnologias assistivas e demais cuidados especializados. “Este cenário representa uma oportunidade para soluções que promovam um envelhecimento saudável e autônomo, enquanto o desafio será garantir a sustentabilidade financeira dos sistemas de saúde e a formação de profissionais qualificados”, reforçou Marcio de Paula.

Rogério Scarabel

Advogado. Atua no setor de Saúde e possui ampla experiência em Saúde Suplementar e Saúde Pública. Esteve à frente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Ao ser indagado sobre as expectativas para 2025, o advogado Rogério Scarabel afirma que “2025 deve ser um ano muito interessante para a Saúde, principalmente a questão da saúde suplementar – até porque a saúde pública é um discurso muito mais sobre orçamento e se a ministra Nísia Trindade fica ou não. Na saúde suplementar deve ser mais movimentado, bem mais”.

Por 'movimentação', Scarabel refere-se a cinco pautas que devem ser o foco da saúde suplementar neste ano, sendo elas:

  • a abertura para um sandbox regulatório (uma nova norma foi aprovada em dezembro de 2024);
  • discussão do plano ambulatorial;
  • debate sobre a sub segmentação dos planos ambulatoriais;
  • discussões sobre revisão técnica, vendas online e MECREG (mecanismo de regulação), com o intuito de decidir se haverá se haverá coparticipação e franquias;
  • ampliação do pool de risco em matéria de contratos.

Ainda segundo Scarabel, a discussão dessas pautas devem levar o ano todo, até que seja concluída a estruturação de desenhos e modelos. As trocas de cargos também devem influenciar o rumo dessas pautas. Ou seja, “temos três diretrizes que saem no ano de 2025 e cinco temas pautados para 2025, além dos reflexos e dos conflitos que provavelmente vão surgir a partir do momento que essas mudanças entrarem em vigor”, concluiu o advogado.

Patrick Larragoiti Lucas

Administrador especialista em operadoras e seguros de saúde. Foi presidente do conselho do Grupo SulAmérica durante 35 anos e passou por companhias como Rede D'Or São Luiz e IBCG (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).

Para Patrick Larragoiti Lucas, a inteligência artificial deve continuar tomando os holofotes no mercado de saúde.

Embora já se fale muito sobre IA, o especialista acredita que ainda há muito espaço para projetos de saúde dessa natureza no Brasil. “O Brasil ainda não tem feito muitas coisas [na área da saúde]. Vemos algumas companhias com iniciativas, mas de maneira individual”, reforça o ex-presidente do conselho do Grupo SulAmérica.

A expectativa se dá pelo potencial múltiplo das tecnologias de IA na saúde. “Estamos falando de aprimorar análises de dados, melhor diagnóstico, tratamento personalizado, gestão de doenças crônicas, eventualmente telemedicina… tudo isso pode revolucionar de maneira muito relevante à saúde no Brasil e no mundo. Vai ser uma grande transformação e espero que possamos estar na liderança desse tipo de transformação”, completa Larragoiti Lucas.

Por outro lado, para que esses avanços com inteligência artificial se consolidem, é necessário que o Brasil esteja devidamente alinhado às demandas da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).

“É uma lei desafiante aqui no Brasil, principalmente quando se fala de atingir uma melhor gestão de dados. Tomara que essa legislação não coíba e reduza todo o potencial que a inteligência artificial pode trazer para melhorar a gestão de dados na saúde suplementar”, afirmou Larragoiti Lucas.

Rita Ragazzi

Executiva de Saúde especialista em estratégia, marketing, operações, investimentos, M&A e saúde digital. Atuou em consultorias multinacionais e na indústria de Life Sciences, em empresas como a KPMG, Siemens Healthineers e outras. Atualmente é diretora de Mercados e Policy Shaping em Saúde na Prospectiva Public Affairs LAT.AM .

Para Rita Ragazzi, 2025 é um ano no qual o setor de saúde deve concentrar seus esforços em áreas terapêuticas, como oncologia – com avanços em CAR-T, imunologia e diagnósticos moleculares.

Em alinhamento com as previsões de Márcio de Paula, Ragazzi também aposta na permanência da saúde mental entre as principais tendências. Essa tendência deve ser vista nas plataformas digitais, como discussões em redes sociais e o avanço do monitoramento de sinais e sintomas via aplicativos.

“Soluções que facilitem o diagnóstico precoce e validem o ROI dos tratamentos serão altamente valorizadas”, reitera a diretora de Mercados e Policy Shaping da Prospectiva Public Affairs LATAM.

Junto a isso, doenças como obesidade e outros distúrbios metabólicos devem continuar em evidência, através da popularização de medicamentos inovadores e outras soluções coadjuvantes – como diferentes abordagens terapêuticas e uso de plataformas digitais para isso.  Entre outras condições que devem estar no radar de especialistas e cientistas, estão as doenças degenerativas e neuromusculares, que exigem atenção devido aos altos custos. Em paralelo, as questões quanto ao envelhecimento populacional e adesão a vacinas permanecem como prioridades importantes.

Já quando o assunto é tecnologia, Rita aposta na ascensão de plataformas digitais para:

  • ensaios clínicos;
  • RWE (real world evidence);
  • monitoramento de performance (acordos de risk sharing);
  • gestão de carteiras de saúde digitais;
  • monitoramento de dados em oncologia (alinhado com as plataformas do governo).

No que se refere aos planos de saúde, a expectativa é que haja cada vez mais espaço para cartões de desconto, novos modelos para planos individuais e planos digitais.

Paulo Zoppi e Luís Vitor Salomão

Fundadores da Green Rock (GR) e da rede de laboratórios SalomãoZoppi Diagnósticos. São médicos anatomopatologistas e integrantes do Comitê Estratégico de Investimentos da GR.

Para a nossa dupla favorita de anatomopatologistas, “as áreas mais promissoras para este ano são as de medicina de precisão (auxiliada pela genômica e inteligência artificial) e a medicina de prevenção e bem-estar”, afirmam Salomão e Zoppi.

Entre outros temas que devem continuar a chamar atenção, estão as terapias feitas através da biotecnologia, como imunoterapia e terapia com RNA mensageiro. Trata-se de abordagens promissoras para o tratamento de diversas doenças graves, como câncer e doenças autoimunes.

Principais acontecimentos de 2024

Maio

No mês de maio a Rede D’or e o Bradesco Saúde uniram-se para investir mais de R$ 1bi em hospitais, com o objetivo de minimizar os prejuízos do setor. De início, a ideia é que sejam criadas novas unidades para atender às regiões de Alphaville e Guarulhos, ambas no estado de São Paulo; e Macaé, um município próximo da capital do Rio de Janeiro.

Ainda em maio de 2024, o marco legal das pesquisas clínicas finalmente foi sancionado. De modo geral, as decisões permitem que os estudos tenham mais proteção jurídica, além de serem analisados e aprovados com mais agilidade. A Green Rock explorou o assunto com mais profundidade aqui. Em suma, pode-se dizer que o cenário científico brasileiro deve se tornar mais competitivo com a nova lei.

Junho

Já em meados de junho, o Grupo Dasa e Amil juntou-se para ampliar a Ímpar, uma nova rede hospitalar que será a segunda maior do Brasil por englobar as unidades de ambas as redes, com mais de 4 mil leitos e 25 hospitais. Assim, a joint venture torna-se concorrente da Rede D’or e Hapvida que, respectivamente, contam com 12 mil leitos e 73 hospitais, e 5,7 mil leitos e 6 hospitais.

Agosto

Em agosto a Oncoclínicas anunciou um novo programa de franquias e um joint venture na Arábia Saudita, em parceria com o grupo Al Faisaliah. Assim, as Oncoclínicas irão inaugurar algumas unidades na região e devem expandir para todo o Oriente Médio no futuro.

Setembro

Por fim, no início de setembro, foi divulgado que as operadoras de saúde conseguiram lucrar pela primeira vez desde 2021. Ao todo, foram 3,3 bilhões de reais de lucro no primeiro trimestre de 2024. Porém, o destaque real vai para os ganhos com operacional, que alcançaram os 1,8 bilhão de reais e permitiu reverter o prejuízo de 1,6 bilhão de reais detectado em 2023.

Além de 2025, uma visão para o quinquênio

Gonzalo Grillo

Formado em administração de empresas, Gonzalo Grillo é especialista em transformações corporativas e reestruturações. Fundou o Healthcare Industry Group na América Latina e tem vasta experiência na área da saúde, atuando como CEO e Chief Restructuring Officer em empresas do setor. Ele também assessora acionistas de grandes fundos, como BTG Pactual e TPG Capital, e é reconhecido por liderar projetos de impacto sustentável em saúde.

Para Gonzalo Grillo, quatro pautas deveriam começar a ganhar mais espaço nos debates de saúde ao longo dos próximos 5 anos. Entre elas, Grillo sugere temas sobre:

  • conflitos de interesses dentro da indústria de saúde;
  • mecanismos de reestruturação de empresas;
  • educação contínua, em especial para pacientes-consumidores;
  • e ampliação da parcerias público-privadas.

De acordo com o administrador, os conflitos de interesse permeiam debates e negociações  em todo o setor. Trata-se de divergências entre diferentes agentes, indo desde empresas de planos de saúde e hospitais, até médicos e pelo SUS. “Cada um deles tenta maximizar seu benefício, seu lucro, o que vai contra a sustentabilidade do sistema”, aponta.

Já no que se refere aos mecanismos de reestruturação de empresas de saúde, Grillo afirma que a maior parte da indústria de saúde não utiliza ferramentas que auxiliam as instituições após um período de reestruturação. "Estamos falando de fundações, empresas sem fins lucrativos, cooperativas e planos de saúde, todos são agentes que não se beneficiam de mecanismos de reestruturação eficiente”, observa o especialista.

Consequentemente, algumas empresas passam a atuar como “mortos-vivos”, que não se recuperam das mudanças feitas e deixam de oferecer às comunidades serviços de qualidade.

Além disso, Grillo defende incentivos contínuos para a educação de todos os agentes envolvidos no mercado de saúde, mas especialmente para os pacientes. Nesse sentido, ele reforça que “os usuários de planos de saúde não compreendem a diferença de tarifa entre exames de imagem em diferentes instituições. o beneficiário, por meio do plano de saúde, recorre a lugares caros e isso encarece o sistema”, explicou Gonzalo.

Por fim, as parcerias público-privadas devem se tornar cada vez mais frequentes. Considerando o orçamento cada vez mais enxuto para a saúde pública, somado ao fato de que o país continua crescendo populacionalmente e do aumento da expectativa de vida, “o fomento dessas parcerias ajudará no enfrentamento de situações complexas que pressionam ainda mais os custos de saúde”, concluiu Grillo.